Não sei se é boa
ou ruim, se vale ou não à pena contar, mas o fato é que gostei da história.
Gostei da menina, simplesmente, me veio na mente, e resolvi escrever sua
trajetória, para que todos conheçam a menina que amava. Era uma menina comum,
com 15 ou 16 anos, talvez mais, talvez menos. Como toda garota era sonhadora,
vivia fazendo planos, adorava viver no mundo da lua, alheia a hipocrisia e a
maldade que acontecia todos os dias e era retratado na televisão. Tinha suas crenças,
acreditava em anjos, em mágicas, em finais felizes, e principalmente,
acreditava no amor. E acreditava tão fielmente, que quem a via falar sobre
qualquer um desses assuntos, por mais racional que fosse, passava a acreditar
também. Ela acreditava no amor, mas não o conhecia. Órfã, tinha aprendido a se
virar desde cedo, nunca teve ninguém por ela, nunca conheceu sua família, vivia
sozinha, não tinha amigos porque tinha um mundo só dela, e era lá que ela
gostava de viver, mas mesmo não tendo ninguém, ela amava. Como não tinha
pessoas, ela amava coisas, amava o calor do sol nos dias de verão, a chuva que
vinha como um presente para ela, que quando se molhava, sentia-se viva. Amava a
lua, que iluminava as noites mais escuras de sua vida, e lhe deixava ver e
sonhar com as estrelas. Até que ela conheceu alguém. Sim, alguém de verdade, de
carne e osso como ela. Um rapaz, bastou uma primeira olhada entre os dois, e
tudo aconteceu. Como sempre, no começo tudo é festa, tudo é lindo, tudo é bom.
Mas vale lembrar que o cara era um idiota, incapaz de amar qualquer coisa que
seja, muito menos uma pessoa. Brincou com os sentimentos dela, e ela, que
estava inundada de amor, se afogou. O sonho acabou, ela conheceu o lado bom e
ruim do amor. Mal tratada, deslocada, mal compreendida, o mundo dela desabou.
Então ela olhou pro céu. Era uma tarde fria e cinzenta, o céu estava lá, como
sempre, mas não era azul dessa vez. Ela estava cansada, havia chorado, havia
deitado. Doía ser deixada, doía amar e não ser amada. Estava cansada de tentar,
então, ela quis desistir. Se é fraqueza ou coragem, eu não sei. No começo, ela
achava que as coisas eram belas, depois foi vendo que não era bem daquele
jeito, mas continuava a repetir pra si mesma que não estava assim, tão mal.
Quantas vezes ela exercitou sua paciência... Quantas vezes deu vontade de jogar
tudo pro alto, mas ela aguentava firme. Agora nada mais importava, ela havia se
cansado. Hora de apelar para a saída de emergência. E então ela decidiu, ia
terminar com tudo de vez. Ali acabava o sofrimento, o ódio, a dor e o amor.
Escolheu como queria que fosse seu fim, ela estava a alguns minutos parada com
o copo de veneno nas mãos, ela pensava, apenas um gole, e então a paz. Sem a
menor pressa, tudo fora meramente calculado. Ela havia errado, ele havia
errado. Mas ali estava a redenção. E assim ela se foi. Mas ela estava enganada,
e as coisas não melhoraram, a dor que doía apenas aumentou, a saudade que
insistia, ficou mais insistente. No momento em que virou o copo, ela havia se
matado, e matado os heróis que havia construído em sua mente. Ela achava que
não tinha mais nenhuma lição a aprender, e agora eles a atormentavam, julgavam-na,
lembravam-na que ela havia sido fraca. Seus pensamentos e atitudes eram
contraditórios, nada mais fazia sentido. Ela só queria se perder, fingir que
não precisava do mundo dela. Mas as memórias viraram fantasmas, e eles gritavam
o que ela já não queria mais ouvir. Então ela jurou que iria encontrar o rapaz,
a causa de tanto tormento e sofrimento. E ela jurou que ele a pagaria, por cada
vez que dera um passo à frente sem a sua companhia. Ela estava louca, mas o
amor ainda a corroía. Ela só queria ser amada na mesma intensidade em que
amava. Mas aquilo parecia ser impossível. Passava horas trancada olhando pro nada,
passava dias deitada, sem comer. Apenas as lembranças eram suas companheiras. E
isso a deixava cada vez mais atordoada. Até que um dia, caminhando distraída,
ela encontra um objeto. Do qual ela nem se lembrava mais. E ali, naquele
objeto, ela conheceu uma menina. Parecida com ela, não. Parecida com o que ela
era. Naquele objeto morava uma menina linda, como ela era quando era apenas uma
adolescente sonhadora. A menina lhe sorria, seus olhos brilhavam. Há tempos ela
não via retrato tão perfeito da felicidade. Há tempos, tudo o que ela via era
triste e angustiante, e a deixava com vontade de chorar. E pela primeira vez
desde que tudo havia acabado, ela sentiu vontade de sorrir. Ela olhava a menina
do espelho, e sentia uma vontade incontrolável de sorrir, então ela riu. Riu
até a barriga doer, com sua nova amiga, que ria de volta. Por aquela menina ela
se apaixonou. Lá estava o amor nascendo dentro dela novamente. A menina
silenciosa, que a olhava com ternura e sempre sorridente a encantava. Cada vez
que ela a olhava, se apaixonava mais. E a menina virou sua confidente, ela
contava tudo para a menina, ela adorava a menina, e a menina já fazia parte
dela. Foi preciso muito sofrimento para que ela visse o quanto errou ao tirar
sua vida, sofreu mais ainda com as lembranças de um amor que não era bem real,
ela achava que amava, mas na verdade era só encantamento. Mas quando ela achou
o espelho, ela não viu o reflexo de como ela estava naquele momento, ela viu
seu reflexo no passado, quando ela era feliz, quando ela amava verdadeiramente,
sem motivo e sem razão, apenas amava porque amava. Ela percebeu que o garoto
fora apenas ilusão, ela não o amava. Ela amava o sol, a chuva, a lua. E amava a
ela. Sim, acima de tudo ela se amava, e queria e merecia ser feliz. Num espelho
ela reencontrou o amor, reencontrou a criança perdida dentro dela, e
reencontrou seus sonhos e seu mundo. Descobriu que não havia perdido nada, tudo
ainda estava dentro dela, ela apenas tinha se esquecido de busca-los em si. E
quando os encontrou, ela voltou a ser a adolescente, a menina que amava. Voltou
a ser o que era, a ter o que tinha. Infelizmente não sei contar o que aconteceu
com a menina que amava. Não sei se ela encontrou outra pessoa pra amar ou se
continuou solitária. Só sei que ela se amava, e quando ela se olhava no
espelho, não sei dizer, mas sorriso mais lindo não havia. A história eu termino
aqui, sem um final concreto, assim como a vida. Nada é certo e o futuro é
subjetivo. Assim finalizo a história sem fim da menina que amava.
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